terça-feira, 29 de novembro de 2016

O avião que transportava a Chapecoense


Em primeiro lugar meus pesares a todas as famílas dos jogadores e jornalistas mortos na tragédia desta última madrugada. E que os sobreviventes possam se recuperar o mais rápido possível. Quero comentar aqui brevemente, como piloto, sobre a aeronave que transportava a equipe de futebol profissional do Chapecoense e que infelizmente se acidentou na cidade de Medelín, muito próximo ao aeroporto de destino. Trata-se do Avro Regional 146-RJ85 (fotografia acima de um modelo similar operado pela Brussels Airlines). Esta aeronave também serviu à família Real Britânica (Príncipe Charles). Reparem nos quatro motores a jato do aparelho. Ele é chamado de "Jumbolino" justamente por ter duas turbinas na asa esquerda e duas turbinas na asa direita. Além disso tem o chamado "diedro negativo" - ângulo de inclinação da asa em relação a um plano horizontal - o que lhe confere maior sustentação, pelo tipo do projeto. Não concordo em dizer que o aparelho não é seguro. O problema é que em muitos países da América do Sul a manutenção e operação das aeronaves é precária. Além de voar várias vezes neste modelo na Europa fiz simulador deste avião. Um dos aviões mais seguros que voei pois conta com 4 turbinas. É o avião que serve o Príncipe Charles. Obviamente é necessário avaliar as informações das duas "caixas-pretas" e dos sobreviventes, mas acredito em uma pane seca. Não houve explosão. Além disso, este modelo AVRO, por ter 4 motores (turbinas), consome mais combustível e assim tem uma autonomia menor. Segundo as normas da aviação, toda aeronave que parte para uma determinada rota deve ter combustíverl suficiente para chegar ao seu destino, de lá ao aeroporto alternativo e mais 45 minutos de voo. Curiosamente este voo que se acidentou percorreria uma rota de 3.000 Km. A autonomia máxima da aeronave determinada pelo fabricante é de 3.000 Km. E se houvesse a necessidade de alternar a rota devido ao mau tempo (como pode ter ocorrido), como é que seria ??  A série BAe 146 saiu de linha em 2001 por falta de clientes. Mesmo assim, o avião segue operante, porque é especialmente útil em trajetos difíceis. O torque das quatro turbinas, mais forte que o dos bimotores, torna o BAe 146 ideal para operar em pistas curtas com ar rarefeito – comuns na Bolívia de onde o voo partiu, e na Colômbia, onde aterrissaria. Não era um avião novo – já tinha 17 anos de fabricação. Entre as linhas aéreas mais renomadas, a média de idade da frota tende a não passar muito dos 10 anos. Mas nem por isso a aeronave era idosa. A média de idade dos aviões da americana United Airlines é de 14,1 anos. Da portuguesa TAP, 15,4 anos. Em companhias menores, é normal haver aeronaves em uso por mais de 30 anos. Este modelo de avião também tem uma reputação muito razoável no que se refere à segurança. Seu índice de acidentes é de 0,41 a cada milhão de voos feitos, segundo a fundação AirSafe, que contabiliza esse tipo de dado. Isso não coloca as marcas da série BAe 146 entre as melhores do planeta (veja abaixo), mas trata-se de um histórico mais positivo que o do clássico Boeing 747, por exemplo, que apresenta 0,66 ocorrências por milhão de viagens. A Série 300 da Airbus, que inclui o onipresente A 320, também tem um índice levemente maior de acidentes: 0,47. O avião mais perigoso deste levantamento, aliás, é o Bandeirante, avião a hélice da Embraer, que saiu de linha há tempos, com 3 acidentes por milhão de voos. O RJ85, modelo da série BAe 146 que caiu na Colômbia, tem poucos acidentes registrados pela base de dados do site Aviation Safety: aconteceram só três, e a tragédia da Chapecoense foi a primeira a ter vítimas. As especificidades do avião – seja a idade da máquina, seja o índice de segurança – não esclarecem o que pode ter causado o acidente da Chapecoense. As informações concretas só virão após a investigação da Aeronáutica Civil Colombiana, que deve durar meses.



Na fotografia abaixo estou desembarcando de um AVRO na Bélgica, algum tempo atrás.


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