domingo, 8 de março de 2020

Petróleo desaba mais de 30%, maior queda desde a Guerra do Golfo, após embate entre Arábia Saudita e Rússia

Os preços do petróleo desabaram mais de 30% no mercado internacional, num tombo que só fica atrás daquele registrado durante a Guerra do Golfo, em 1991.  A queda é consequência do aumento da tensão entre os países membros da Organização dos Países Exportadores do Petróleo (Opep), que não chegaram a um acordo que visava diminuir a produção do óleo por conta dos impactos econômicos globais causados pela emergência global do novo coronavírus. Os contratos futuros do barril de petróleo tipo Brent, negociados na Bolsa de Londres, operam com forte perda, tendo chegado a US$ 31,02. O Goldman Sachs alertou que o preço poderia chegar a próximo de US$ 20 por barril. Na sessão da última sexta-feira, o preço estava em queda, na faixa dos US$ 45, com o mercado repercutindo a falta de acordo na Opep. A causa do mergulho no preço do petróleo nesta sessão foi a decisão unilateral da Arábia Saudita de cortar os preços dos barris produzidos em seu território, dando início a uma "guerra de preço" em relação à commodity com a Rússia. Com isso, em meio ao colapso na demanda por petróleo em razão da epidemia do novo coronavírus, a indústria de óleo treme com a perspectiva de um excesso de oferta do produto. De um lado, a Arábia Saudita derrubou os preços e avisou que vai ampliar a produção. De outro, a Rússia liberou suas petroleiras a produzirem o quanto puderem. O cataclismo terá impacto em toda a indústria de energia, desde gigantes como a americana Exxon Mobil a pequenos produtores de petróleo. Nações com economias dependente do setor de óleo também devem ser afetadas, caso de Angola. Pode haver ainda um revés no combate às mudanças climáticas com os combustíveis fósseis se tornando mais competitivos que opções de fontes renováveis. De acordo com a agência Reuters, a Arábia Saudita planeja aumentar a produção de petróleo acima de 10 milhões de barris por dia a partir de abril, podendo chegar a 12 milhões, segundo fontes ouvidas pela agência Bloomberg, após o atual acordo para restringir a produção entre a Opep e a Rússia (conhecido como OPEP +) expirar no fim de março. "Tanto a Arábia Saudita quanto a Rússia estão sob um acordo que limita a produção de petróleo, até o fim de março. Uma vez que esse acordo termine, eles podem produzir o quanto quiserem. O medo é que esses dois países comecem a extrair muito petróleo, fazendo o preço desmoronar por causa de uma enxurrada de oferta no mercado" — indica Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset. Andy Lipow, presidente da consultoria americana Lipow Oil Associates, com sede em Houston, no Texas, diz que a medida pegou todos "de surpresa": "A Opec+ surpreendeu ao iniciar uma guerra de preços para ganhar participação de mercado".

Segundo Miriam Leitão: Olhando para o Brasil, a redução dos preços colocará o governo Bolsonaro em um dilema, segundo o consultor Adriano Pires, do CBIE. Se a Petrobras seguir a paridade internacional, terá que reduzir bruscamente o preço da gasolina e do diesel, e isso pode leva-la a ter enorme prejuízo, porque os seus custos de produção podem ser mais elevados. Isso também inviabilizará o setor de etanol, que não teria condições de competir, e a arrecadação do governo.

- É uma situação completamente anormal e eu acho que o governo terá que elevar a Cide para regular a demanda no setor. Seria bom para a União, os estados e os municípios, em termos de receita. O consumidor pode até reclamar, mas e se a Petrobras ficar inviabilizada? E se o setor de etanol quebrar? É muito pior – defende.

Aqui no Brasil, outro problema são os leilões de petróleo agendados para este ano. São pelo menos três, segundo Adriano. Ele explica que o setor pensa no longo prazo, mas diz que a redução dos preços pode afetar o apetite do investidor.

- O tamanho desse estrago vai depender do tempo de duração desse ciclo de baixa. Se é um mês, seis meses, um ano. Prejudica muita gente e muitos setores, é algo bem preocupante. As ações da Saudi Aramco, da própria Arábia Saudita e que fez IPO recentemente, estão desabando. Inviabiliza o shale gas americano e coloca em risco o pré-sal brasileiro – explicou.

Às 22h deste domingo, o preço do petróleo do tipo brent caía 20% e voltava para a casa de US$ 36. A agência Bloomberg chamava o episódio de “guerra de preços de petróleo”. O índice S&P parou de ser negociado no after Market após cair mais de 5%.

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