sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Argentina sobe meta de inflação para acelerar economia

O governo da Argentina anunciou no final de 2017 a elevação das metas de inflação para os próximos anos e, assim, dar espaço para o Banco Central afrouxar sua política monetária, em um esforço para dar suporte à fraca recuperação econômica. A meta de inflação para 2018 foi elevada para 15%, de um objetivo anterior de um intervalo de 8% a 12%, enquanto a de 2019 passou de 5% para 10%. O objetivo de reduzir a inflação para 5% foi adiado de 2019 para 2020. "Decidimos ajustar as metas de inflação e atrasamos em um ano nossa meta final de inflação de 5%", disse o ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, em entrevista coletiva à imprensa. "Além disso, vamos agora trabalhar com um número específico [de meta] e não mais um intervalo". "Ao tornar nossa meta mais gradual, isso permitirá um afrouxamento da política monetária", afirmou Federico Sturzenegger, presidente do BC argentino, ao lado de Dujovne e do ministro de Finanças, Luis Caputo, e do chefe de Gabinete, Marcos Peña. "As taxas [de juro] serão ajustadas", mas o ritmo desse corte será uma decisão do BC, acrescentou. A taxa básica de juro argentina está atualmente em 28,75%. Este ano, o BC elevou a taxa em quatro pontos percentuais para tentar domar a inflação que em 2016 atingiu 41%, bem acima do objetivo de 25%. Para este ano, o governo Macri estima que a alta de preços será de 21%, de uma meta de 12% a 17%. Os economistas privados estimam uma taxa um pouco mais alta, de 24%. Até recentemente Sturzenegger argumentava que o caminho mais rápido para a Argentina alcançar crescimento sustentável era por meio do controle da inflação. Essa postura de política monetária mais rígida teve forte impacto sobre a moeda local, com os investidores acumulando títulos denominados em pesos que rendiam até 10% em termos reais. Embora o peso argentino tenha o pior desempenho entre as moedas emergentes, em termos reais a divisa argentina se fortaleceu em relação as moedas dos 12 principais parceiros comerciais da Argentina, segundo dados do próprio banco central. Isso vem prejudicando as exportações do país. Em novembro, a Argentina registrou um déficit comercial de US$ 1,5 bilhão - um recorde. Além disso, há sinais de que a política monetária mais apertada vêm pesando sobre o crescimento. A economia argentina contraiu 0,3% em setembro em relação a agosto, segundo dados revisados divulgados ontem pela agência nacional de estatística. "Ratificamos nosso compromisso anti-inflacionário e, ao adiarmos nossas metas em um ano, observamos que hoje temos mais informações do que tínhamos em janeiro de 2016 [quando Macri tomou posse]. Porém, redobramos os esforços para alcançarmos as metas", disse Dujovne. Segundo o ministro da Fazenda, se a Argentina cumprir suas metas de inflação, a economia vai crescer 3,5% nos próximos anos e isso ajudará a reduzir a pobreza que afeta cerca de um terço da população. O orçamento federal para 2018 - aprovado na noite de anteontem pelo Congresso - prevê uma alta anual do custo de vida médio de 15,7%, enquanto o BC trabalha com uma taxa de 10%. "A mudança nas metas é teoricamente razoável, considerando que era muito agressiva, mas, ao mesmo tempo, a mensagem pode ter um efeito contrário", disse Alejo Costa, estrategista do BTG Pactual em Buenos Aires. "Para a economia, isso significará uma taxa cambial mais competitiva e taxas de juros reais mais baixas, que vão favorecer o crescimento". O BTG agora espera que o BC argentino antecipe um corte na taxa de juro básica para janeiro, de uma expectativa anterior de uma ação em março. Isso permitirá uma desvalorização adicional do peso, proporcionando impulso as exportações, mas são benefícios que terão como custo a credibilidade do BC, que já era questionada pela falta de cumprimento da meta de inflação, diz Alejo. Ontem, o peso argentino caiu 4,1%, para 19,20 por dólar, em reação ao anúncio das mudanças nas metas de inflação. Esta foi a maior desvalorização do peso desde que Macri suspendeu os controles cambiais e permitiu a flutuação da moeda a partir de dezembro de 2015.

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