domingo, 14 de janeiro de 2018

Com reformas, Macron pode beneficiar zona do Euro


O fortalecimento da recuperação da economia da zona do euro foi uma das histórias econômicas de 2017 - e analistas da região disseram ao "Financial Times" que esperam mais do mesmo em 2018. Uma consulta do "FT" com 34 economistas constatou que a maioria deles acredita que o crescimento da região será impulsionado pelas reformas do presidente Emmanuel Macron no mercado de trabalho da França e as possíveis políticas pró-União Europeia de uma nova "grande coalizão" do governo alemão, além de condições globais mais favoráveis. Trinta e um participantes afirmaram que a economia da zona do euro crescerá 2,3% no ano que vem, com uma minoria substancial apontando a possibilidade de uma expansão ainda maior. Isso se compara ao crescimento de 2,4% deste ano, segundo a mais recente previsão do Banco Central Europeu (BCE), divulgada este mês. As eleições na Itália, em março, são um dos maiores riscos à expansão, conforme constatou a pesquisa. Uma maioria expressiva também acredita que 2018 será o ano em que o BCE encerrará seu programa de estímulos à economia com a compra maciça de títulos. Uma minoria significativa, de 34%, acredita que o crescimento será vigoroso o suficiente para o BCE encerrar em setembro o programa de afrouxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) - que está para entrar em seu quarto ano. A possibilidade do fim do afrouxamento quantitativo surge mesmo com a expectativa de a inflação continuar baixa, em 1,5% - abaixo da meta do BCE, de perto de 2%. Albert Gallo, gestor de carteiras e diretor de estratégia do fundo Algebris Investments, diz: "A recuperação vai acelerar em 2018, com uma combinação de estabilidade política, estímulo fiscal e política monetária acomodatícia". Muitos especialistas ficaram surpresos com a força da recuperação da zona do euro em 2017 após anos de fraca expansão e elevado desemprego. Em 2016, a alta do PIB na zona do euro foi de só 1,7%. A eleição de Emmanuel Macron em maio ajudou a consolidar a recuperação da França, com o presidente propondo uma série de reformas no mercado de trabalho. Embora quase todos os participantes da pesquisa tenham se mostrado otimistas com as reformas, os economistas diferem sobre a rapidez com que elas estimularão o crescimento da segunda maior economia da zona do euro. A agenda econômica de Macron será "a razão individual mais importante para a continuidade da recuperação da zona do euro em 2018", disse Andre Sapir, do centro de estudos Bruegel de Bruxelas, e professor da Université Libre de Bruxelles. Laurence Boone, economista-chefe da Axa Investment Managers, disse que o impacto de curto prazo mais importante das reformas de Macron foi o fator surpresa, que suspendeu a onda populista contra o euro e reforçou a confiança no apetite por reformas. A Alemanha caminha para o ano novo sem um governo, depois das eleições de setembro, mas com os democratas-cristãos (CDU), da premiê Angela Merkel, e os social-democratas (SPD), de centro-esquerda, prometendo conversar sobre uma possível renovação de sua coalizão. Muitos participantes da pesquisa do "FT" estão otimistas com as consequências econômicas - principalmente por causa da disposição do SPD de promover a agenda de Macron por uma maior integração econômica da zona do euro. As negociações sobre uma coalizão envolvendo o CDU e os liberais (FDP) fracassaram. "Eu tenho outra grande coalizão como um acontecimento positivo", diz Jennifer McKeown, economista-chefe para a Europa da consultoria Capital Economics. "É bem verdade que as implicações para as empresas seriam menos positivas que as de uma coalizão envolvendo o FDP. Mas os cortes nos impostos das famílias, especialmente as de menor renda, deverão ajudar a apoiar o crescimento dos gastos do consumidor na Alemanha. Enquanto isso, uma posição relativamente aberta sobre a reforma na zona do euro e a integração fiscal seria um bom prenúncio para a estabilidade da região como um todo". Mas há vozes mais céticas na Alemanha. "Uma nova e grande coalizão não mudaria fundamentalmente sua posição política e também não estaria disposta a dar grandes passos em direção a uma maior integração da zona do euro", diz Peter Bofinger, um professor da Universidade de Würzburg e membro do conselho de especialistas econômicos da Alemanha. Embora os participantes da pesquisa esperem uma estabilidade política, um grande risco ao crescimento vem da possibilidade de partidos eurocéticos se saírem vitoriosos nas eleições italianas, ou de uma escalada nas tensões entre a Coreia do Norte e os EUA. Philippe Legrain, professor convidado do European Institute da London School of Economics, diz: "As eleições italianas poderão levar à formação de um governo hostil à participação do país no euro, reacendendo temores sobre a integridade do euro e a sustentabilidade da dívida do governo italiano".

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