segunda-feira, 6 de julho de 2020

‘Ciao’ para Ennio Morricone, o 'imperador' das trilhas sonoras


“Ennio, Ennio, Ennio. Ciao, Grazie”. Assim o mundo do cinema se manifestou nesta segunda-feira (06/07), diante de uma notícia triste: O compositor italiano Ennio Morricone, de 91 anos, havia morrido em Roma. “Ennio Morricone morreu em 6 de julho, consolado pela fé. Ele permaneceu “totalmente lúcido e com grande dignidade até o último momento”, disse ontem o advogado e amigo da família Giorgio Assuma em comunicado citado pela imprensa. Aos 91 anos, Morricone estava bem de saúde até alguns dias atrás. Em 5 de junho, ele foi anunciado o vencedor, ao lado do também compositor John Williams, com o prêmio Princesa das Astúrias das Artes na Espanha. Contudo, há alguns dias sofreu um acidente doméstico e fraturou o fêmur. Foi internado em uma clínica em Roma, mas piorou e não resistiu. Morricone é um dos intocáveis no panteão dos grandes músicos do cinema. Não apenas pelo trabalho prolífico – 520 trilhas sonoras para todos os tipos de filmes, segundo o site IMDB – mas também pela relevância. Milhões de pessoas, cinéfilas ou não, conhecem ou sabem cantarolar temas de filmes que eventualmente nem viram, como o assovio de ‘Três Homens em Conflito’ (1966), ou o solo de oboé de ‘A Missão’ (1986). O músico nasceu em Roma em 10 de dezembro de 1928 em Roma e começou a compor aos 6 anos. Aos 10, foi matriculado em um curso de trompete da Academia Nacional Santa Cecília de Roma. Também estudou composição, orquestra e órgão. Em 1961, aos 33 anos, estreou no cinema com a música de ‘O Fascista’, de Luciano Salce. Nos anos 60, ganhou fama com as trilhas sonoras de westerns-spaghetti, como ‘Por um Punhado de Dólares’ (1964), ‘Por uns Dólares a Mais’ (1965), ‘Três Homens em Conflito’ (1966) e ‘Era uma Vez no Oeste’ (1968). O gênero ajudou a consagrar o ator Clint Eastwood e o diretor Sergio Leone. Esses trabalhos o levaram a ser conhecido na Europa como o “Imperador das bandas sonoras”. Alguns dos trabalhos mais revelantes do músico, contudo, ocorreram nos anos 80. O primeiro deles foi ‘Era Uma Vez na América’ (1984), em nova parceria com Sergio Leone. A partitura é uma das composições mais desafiadoras, complexas e importantes de sua carreira. Em 1986, fez ‘A Missão’ de Roland Joffé. Para o tema principal, inspirou-se ao ver o ator Jeremy Irons dedilhando o oboé. Com ‘A Missão’, Morricone era o favorito ao Oscar – que seria seu primeiro –, mas perdeu para ‘Por Volta da Meia-Noite’, de Herbie Hancock. Em 1987, assinou a trilha de ‘Os Intocáveis’, de Brian de Palma, que mistura suspense e jazz e leva o público à atmosfera da cidade de Chicago dos anos 1930. Em 1988, compôs a música de ‘Cinema Paradiso’, repleta de delicadeza e nostalgia, que ajudou Giuseppe Tornatore a conquistar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Apesar de tudo, Morricone demorou para ser consagrado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Em 2007, recebeu um Oscar honorário por sua abundante e elogiada carreira musical. Na ocasião, dedicou o prêmio à esposa Maria Travia, com quem era casado desde 1956 e considerava sua melhor crítica. Morricone só ganhou um Oscar mesmo em 2016, já aos 87 anos, com a trilha de ‘Os Oito Odiados’, de Quentin Tarantino. Antes, havia sido indicado (e preterido) por ‘Cinzas no Paraíso’ (1978), ‘A Missão’ (1986), ‘Os Intocáveis’ (1987), ‘Bugsy’ (1991) e ‘Malenà’ (1999). “O maior presente que eu ganhei fazendo esses filmes foi a amizade do maestro Morricone”, disse Tarantino, que afirma ter mais álbuns de música do italiano do que de Mozart ou Beethoven. Afinal, ninguém é chamado de “imperador” à toa.

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