quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Aracruz e Sadia têm fortes prejuízos com a variação cambial

De Nova Iorque - Duas grandes companhias brasileiras deram nesta sexta-feira o sinal de que a crise financeira com epicentro nos Estados Unidos pode causar mais estragos no Brasil do que muitos acreditavam. A alta do dólar, que chegou a beirar os 18% em setembro, efeito colateral da crise, complicou as contas de algumas exportadoras brasileiras que mantinham, até então, posições no mercado de derivativos de câmbio destinadas inicialmente a reduzir o impacto de um movimento oposto: o da valorização do real. A Sadia, uma das principais indústrias alimentícias brasileiras, com fortes vendas externas em carteira, reconheceu uma perda de R$ 760 milhões geradas principalmente por posições em contratos de futuros e opções cambiais. O diretor-financeiro foi demitido. A Aracruz Celulose divulgou um comunicado informando que a exposição da companhia a instrumentos de derivativos foi "fortemente" afetada pelo dólar e que contratou uma empresa especializada para verificar o tamanho do estrago. O diretor financeiro pediu licença do cargo. A resposta do mercado foi imediata. As ações PN (preferenciais) da Sadia desabaram 35,48%, enquanto as ON (ordinárias) caíram 16,76% nesta sexta-feira. A situação, com a apreensão dos investidores sobre o que mais poderia estar acontecendo nas corporações brasileiras, influenciou negativamente a Bovespa e fez com que várias empresas divulgassem comunicados para informar que não possuem exposições pesadas a instrumentos financeiros. Especialistas esperam por impactos nos resultados das companhias nos próximos dois trimestres. "Os investidores estão certos em ficar preocupados. É um sinal amarelo. Vamos todos olhar para as empresas que têm mais operações internacionais e que costumam fazer operações com derivativos", afirmou Lucy Souza, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) em São Paulo. "Foi realmente uma surpresa, ninguém estava esperando", disse a analista do setor de papel e celulose na corretora Ativa, Mônica Araújo. "Estamos fazendo um levantamento das empresas que são tradicionalmente exportadoras e com dívida e que poderiam estar sendo pressionadas com essa situação. A maioria está OK, mas esse trabalho tem que continuar", acrescentou. A Sadia reconheceu que as operações que foram realizadas pela diretoria financeira da companhia excederam o hedge (proteção) tradicional utilizado por muitos exportadores, que buscam reduzir a influência da flutuação da moeda nos seus resultados por meio de contratos de câmbio. Há dúvidas no mercado sobre se muitas outras empresas também poderiam ter caído na tentação de buscar ganhos financeiros com derivativos cambiais, quando o ideal seria que apenas buscassem garantir o equilíbrio no lado operacional. "A questão do derivativo é uma ferramenta interessante para hedge, mas ela mal empregada é como uma navalha na mão de criança", afirmou Carlos Daniel Coradi, diretor da empresa de análise Engenheiros Financeiros & Consultores. "Pouca gente entende com profundidade e muitas empresas se iludem com as pseudovantagens de proteção dos ativos e passivos através de derivativos", acrescentou. O diretor geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, Sérgio Mendes, afirmou que os casos de Sadia e Aracruz parecem configurar uma situação em que a empresa passou a apostar com o hedge, o que não pode ocorrer. Informou a Folha de São Paulo.

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