quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Uso de cheque especial dispara (+27%)

Os brasileiros estão acessando linhas de financiamento emergenciais em ritmo recorde depois que as medidas do governo para conter o crescimento do crédito limitaram acesso a recursos de custo mais baixo. O uso do cheque especial – que chega a ter juro anual de 185% – deu um salto de 27% este ano para um total recorde de R$ 20,6 bilhões em junho, segundo dados divulgados pelo Banco Central em 27 de julho. A taxa é mais que o triplo do juro médio de 46,1%no crédito pessoal. No México, os bancos cobravam dos consumidores um juro médio ao redor de 31%em maio, de acordo com a comissão local de bancos e valores mobiliários. O BC elevou em dezembro o depósito compulsório e aumentou a taxa básica Selic cinco vezes este ano para desacelerar o crescimento do crédito que chegou a 20%e colaborou para que a inflação atingisse o maior nível em seis anos. As medidas estão aumentando os custos de financiamento para consumidores. Os brasileiros utilizam uma fatia recorde de 26%da renda para saldar dívidas, de acordo com o BC. “Em primeira instância, isso é um problema para pessoas endividadas, muitas das quais são da camada mais pobre da sociedade”, disse Roberto Troster, que já foi economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e hoje comanda a Delta Consultoria. “No longo prazo, é problema do Banco Central porque o crédito não está se desacelerando de forma consistente.” Operadores do mercado de renda fixa apostam que o Comitê de Política Monetária (Copom) encerrou o ciclo de alta de juros, mesmo com o avanço das estimativas de inflação. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em janeiro fechou ontem estável a 12,47%, indicando expectativa de manutenção da Selic em 12,5% pelo resto do ano. O BC elevou a taxa em 175 pontos-base este ano. A inflação implícita para os próximos dois anos, refletida na diferença de taxas entre títulos atrelados à inflação e os contratos de juros futuros, subiu para o maior patamar em três meses de 5,93 pontos percentuais na quintafeira, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 avançou 6,75%nos 12 meses até meados de julho, a maior alta desde 2005, e superior à meta de 4,5%. O volume de crédito do sistema financeiro nacional aumentou 1,6%em junho para R$ 1,83 trilhão, o ritmo mais forte neste ano. A dívida em cartão de crédito aumentou 14% para R$ 33,2 bilhões. O juro médio anual em transações com cartão de crédito estava em 238%em maio, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Isso se comparara, a uma taxa para financiamento de veículos em 30% e em 49%para o crédito pessoal, de acordo com o BC. “O aumento no uso do cheque especial e dos cartões de crédito pode ser indicação de que a demanda do consumidor tem de fazer uma pausa”, disse Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank em São Paulo. “Mesmo com o mercado de trabalho forte, as pessoas estão com dificuldade para pagar as contas.” O desemprego caiu em junho para 6,2%, a menor taxa histórica para o mês, contra 7% um ano antes. A confiança do consumidor subiu em julho para o maior nível desde pelo menos 2005. De acordo com pesquisa do BC, a economia vai crescer 3,94%este ano, após expansão de 7,5%em 2010 que foi a mais rápida em mais de duas décadas. Em junho, a inadimplência da pessoa física ficou inalterada em relação a maio, em 6,4%, a mais elevada em um ano. Em dezembro, a taxa estava em 5,7%. Tulio Maciel, chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do BC, disse na semana passada que o cheque especial continua “bastante restrito” como percentual do total de empréstimos e que as taxas de inadimplência devem recuar neste semestre, com o aumento de salários. A qualidade do crédito “não está deteriorando”, disse Maciel. O BC disse em nota que não comenta especulações de analistas.

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