Da Agência Estado: Dois empresários e um coordenador do setor de cargas
da companhia aérea Gol foram condenados a mais de dez anos de prisão por
um esquema de tráfico de drogas. O processo revelou os meios que o
grupo usava para burlar a fiscalização nos aeroportos, se aproveitando
de regras da própria empresa. Eles foram presos ao tentar mandar 45
quilos de cocaína do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, para Fortaleza e
a acusação sustentou que o trio havia mandado mais de 500 quilos de
cargas, que seriam de drogas, em oito viagens. O caso corre em segredo
de Justiça e está em fase de recurso a pedido dos advogados dos réus,
que querem redução da pena. Durante a investigação, que teve início em
2013, os funcionários da Gol revelaram em depoimento que, pelo sistema
Gol-Comat, cargas e encomendas de funcionários da empresa podem ser
transportadas sem passar por fiscalização do raio X. Foi usando este
recurso que os acusados mandavam cocaína de São Paulo para o Ceará.
Segundo investigação da Polícia Federal, os empresários e irmãos Michel e
Eduardo Felix Farias montaram uma empresa de venda de mármores de
fachada para vender cocaína. Os dois chamaram o coordenador de cargas da
Gol Leandro de Araújo Ferreira para ajudá-los a mandar drogas para o
Nordeste. Os investigadores apuraram que Ferreira recebia a droga dos
empresários e, para fugir da fiscalização, mandava colocar a carga no
sistema Gol-Comat. Nele, o pacote era considerado da companhia aérea e
só podia ter como destinatário um funcionário da Gol ou de uma empresa
terceirizada. A droga saía dos aeroportos de Congonhas e de Cumbica
sempre com destino ao Ceará. Um outro coordenador de cargas da Gol
chegou a ser investigado, mas acabou absolvido no processo, bem como um
homem que tinha o nome como destinatário. Pena reduzida. O Tribunal de
Justiça de São Paulo (TJ-SP) vai analisar o pedido dos advogados para
que a pena seja reduzida. Em seu parecer, a procuradora de Justiça
Marcia Montenegro afirmou que o caso mostrou que não há fiscalização
eficiente em relação ao transporte aéreo brasileiro. “Os fatos narrados
deixam claro como se pode viabilizar parte do tráfico ilícito de drogas
neste país, além de ter ficado patente o risco que a população usuária
do transporte aéreo é exposta, porque, em tese, explosivos também
poderiam ingressar nas aeronaves pelo privilegiado sistema Gol-Comat”,
afirmou Marcia. Para a procuradora, cabia exclusivamente aos empregados
da companhia decidir pela inspeção ou não de determinada carga. O
delegado Osvaldo Nico Gonçalves, diretor do Decade (departamento da
Polícia Civil que também cuida da segurança nos aeroportos), acredita
que o tráfico de drogas só acontece com a conivência de funcionários de
companhias aéreas e dos aeroportos. Nesta semana, seus policiais
prenderam quatro pessoas, entre elas dois funcionários da Latam, quando
tentavam mandar 17 tabletes de cocaína para a África do Sul. “A prisão
aconteceu no saguão, depois que os policiais desconfiaram da atitude dos
suspeitos. A Polícia Federal dará sequência à investigação.” A Latam
afirmou que mantém rigorosa fiscalização nas suas 50 unidades de cargas
despachadas pelo País e que está colaborando com as investigações. A Gol
informou que segue todos os procedimentos para garantir a segurança das
suas operações. O advogado José Valério de Souza, que defende o
funcionário da companhia, disse que o cliente admite os crimes, mas pede
redução de pena para dois anos e oito meses. A advogada dos empresários
não se posicionou.
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