sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Políticos se dividem sobre decreto de intervenção federal no Rio


Do jornal "O Globo", do Rio de Janeiro: A decisão do presidente Michel Temer (PMDB-SP) de decretar uma intervenção federal na segurança pública do Rio dividiu políticos sobre a necessidade da medida e acendeu as críticas sobre a perda de controle da administração do governador Luiz Fernando Pezão. Enquanto uns citam a emergência da violência no estado, alguns se preocupam com a instalação de um regime de exceção e outros acusam o desvio da pauta legislativa. O próprio chefe do Executivo estadual admitiu que "não dava mais" e pediu a iniciativa. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), explicou que o Congresso deve concluir a avaliação do emprego das forças no Rio até quarta-feira. Maia foi um dos deputados contrariados pela medida. Ele acabou convencido da necessidade da intervenção pelos apelos de Pezão, mas destacou que não há margem para erros e que o programa federal "precisa dar certo de qualquer jeito". "Está se dando um salto triplo sem rede: não dá para errar" — ressaltou o presidente da Câmara.O acordo de Temer e Pezão, que ainda precisa ser publicado e aprovado pelo Congresso, agradou os congressistas afeitos ao endurecimento da política de segurança no Rio. O deputado federal Hugo Leal (PSB-RJ), usou as redes sociais para apoiar a medida. "Antes tarde do que nunca. Já", escreveu no Facebook, ao compartilhar a postagem de um discurso seu, de agosto de 2016, em que considerava a intervenção no estado "inevitável". Na ocasião, Leal era candidato a vice-prefeito da cidade, na chapa de Índio da Costa, e pedia a atuação federal em função da "calamidade das contas estaduais", não da segurança. Índio da Costa (PSD-RJ), agora ex-secretário municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, também mostrou aos seguidores que é favorável à intervenção e ainda acusou a demora da iniciativa. "Pedi a intervenção no dia 06/07/2016. Por que demorou tanto, Michel Temer? Quanta gente perdeu a vida com essa demora", comentou o deputado federal, que reassumiu o mandato em janeiro. A deputada federal Clarissa Garotinho (PRB-RJ) aproveitou a notícia da intervenção para criticar Pezão, sem expressar opinião sobre a medida. "Total descontrole do Estado...", destacou ela. Em comentário publicado em suas redes sociais, o senador Álvaro Dias (Podemos-PR) destacou que o Rio é o retrato do caos na segurança, o que é regra no país. "O governo perdeu essa batalha, e quando se anuncia a intervenção no Rio é a revelação da incompetência do governo", frisou o político, que também atribuiu a crise à corrupção no poder público. Já o deputado Glauber Rocha (PSOL-RJ) defendeu que o governador do Rio perdeu a capacidade de gerir não só a segurança, mas todas as áreas do estado. Na visão dele, que propõe uma saída coletiva de Pezão e seus aliados, a intervenção não resolve o problema da população. "Querem vender a ilusão de que esta seja uma alternativa que resolve os probelmas graves de segruança do Rio. Não resiolve. Eu pergunto a vcês: se Pezão não tem cndições de gerir a segurança pública, e não tem mesmo, ele tem condições para gerir a saúde, a educação, as outras áreas de governo? Logicamente que não", destacou o deputado em vídeo ao vivo no Facebook. O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ressaltou que Pezão "perdeu o controle do que nunca foi capaz de gerir" e defendeu que uma ação das Forças Armadas tem riscos de violar direitos civis e não é uma solução para os conflitos "muitos graves". Para ele, a medida "populista" vem para tentar reverter os danos à bancada do PMDB em ano de eleições. No mesmo tom, seu correligionário Ivan Valente (RJ) sustenta que a medida, a qual chamou de "intervenção militar", é uma tentativa de Temer para esconder o fracasso de seu governo. O objetivo, segundo ele, seria usar um problema gravíssimo para mudar "na mão grande" a pauta legislativa. "Temer tenta com essa manobra salvar sua própria pele, a preocupação com a segurança da população fluminense é o que menos aflinge o governo. Por isso, uma intervenção sem um Plano de Segurança Pública, sem tratar de questões estruturais, sem ir ao cerne do problema. Mais uma vez, um problema estrutural é tratado de forma superficial. (...) No final, quem mais uma vez pagará o pato é a população", escreveu Valente no Facebook. Em polo ideológico oposto aos dos psolistas, o senador Wilder Morais (PP-GO), defendeu com letras maiúsculas a decisão do governo. "Nós queremos um país seguro! Intervenção federal já!!!! Depois da aprovação do nosso relatório para reformular a política nacional de segurança pública, conseguimos mais um grande avanço para acabar com o poder das facções!!!!", frisou Morais, autor do projeto de um plebiscito para revogar o Estatudo do Desarmamento. No Senado, o PT já mostra que não dará anuência à medida de Temer. Na visão da senadora Gleisi Hoffmann (RS), a intervenção militar no Rio "pode ser uma brecha para se instaurar um regime de exceção" no estado que dê margem para "repressão direta, inclusive contra movimentos sociais". Ela também lembrou que, com a proposta aprovada pelo Congresso, ficam vetadas alterações na Constituição do país, o que suspende a articulação para a votação da reforma da Previdência. Para o deputado petista Paulo Teixeira (SP), a medida é "desnecessária e populista" e apenas aprofunda o Estado de exceção. A atitude seria uma forma de "Bolsonarização" do governo, segundo ele, em referência ao deputado Jair Bolsonaro, que defende uma dura política de segurança. "Temer tenta se salvar na busca de apoio " à guerra" que agora travará com tropas nas ruas e suspensão de direitos civis", avaliou. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) considerou um "eufemismo" a noção de que a intervenção federal é na segurança pública. "O presidente partiu para o tudo ou nada visando conservar o seu bloco no poder: o governo impopular começará a travar uma nova Guerra das Malvinas. De quebra, arrumou uma saída "honrosa" para evitar a derrota na reforma da previdência", ressaltou o petista. Na visão de Lindbergh, o decreto, ao qual chamou de "bomba do dia", fecha o governo Pezão dez meses antes do prazo, com o legado de uma crise de segurança "que o governador não titubeou em terceirizar".

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