quarta-feira, 27 de maio de 2020

País da 'dolce vita', Itália vê futuro sombrio e difícil após pandemia

Com a recessão mais severa desde a Segunda Guerra Mundial e a confiança dos investidores perdida, devido à pandemia de coronavírus, os empresários italianos veem o futuro da terceira economia na zona do euro como sombrio. Em maio, o índice de confiança nos negócios atingiu o nível mais baixo já registrado desde março de 2005, quando começou a ser medido pelo Instituto Nacional de Estatística (Istat). De março a maio deste ano, em meio à pandemia, este índice caiu de 79,5 para 51,1 pontos. "São dados alarmantes, uma vez que a emergência econômica e de saúde afetou as empresas, especialmente as que atuam no comércio, nos serviços e no turismo", disse a Confesercenti, organização que representa as pequenas e médias empresas (PMEs) nesses setores. Os empresários estão preocupados com "a falta de liquidez, necessária para cobrir as despesas e garantir os salários (...) Estamos prestes a chegar ao ponto de não retorno", reconheceu a presidente da organização, Patrizia De Luise. Em nome desses empreendedores, Patrizia pediu ao governo que as medidas tomadas - entre elas garantias de empréstimos e auxílios à perda de fundos para as PMEs - sejam "imediatamente operacionais". Para ela, "é necessário reduzir a burocracia, acelerar e simplificar os procedimentos, porque, se os apoios demorarem mais, muitas empresas não terão escolha a não ser interromperem suas atividades", afirmou. Uma polêmica foi deflagrada, depois que o governo acusou os bancos de serem muito lentos na aprovação do acesso dessas empresas a recursos públicos. Já os bancos alegam que processaram 400.000 pedidos de empréstimos ao Fundo Público de Garantia, no total de 18 bilhões de euros (20 bilhões de dólares). Primeiro país a ser afetado pela pandemia na Europa, a Itália impôs medidas rigorosas de contenção por dois meses, paralisando grande parte de sua atividade econômica. No primeiro trimestre, seu Produto Interno Bruto (PIB) caiu 5,3% em relação ao trimestre anterior, um declínio acima do esperado e nunca visto em 25 anos, conforme o Istat. O país deve registrar sua pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial este ano, com uma queda no PIB estimada pelo Banco da Itália, nesta sexta-feira, de 9% para 13%. Para Carlo Bonomi, presidente da Confindustria, a principal confederação do setor industrial, "entre 700.000 e um milhão de empregos estão em perigo" na península. "Criam-se empregos, se houver crescimento, inovação e investimento. A crise do setor automobilístico não se resolve com empréstimos, ou desemprego técnico. Resolvemos isso olhando para o futuro. Precisamos investir em novas tecnologias", afirmou. Parece, no entanto, haver alguma esperança no horizonte: o plano de recuperação de 750 bilhões de dólares da UE (US$ 835 bilhões) anunciado esta semana, dos quais a Itália será o primeiro destinatário, com 172 bilhões de euros (190 bilhões de dólares) em subsídios e empréstimos. Os italianos como um todo parecem resistir, embora o país da "dolce vita" esteja de luto pela morte de 33.000 pessoas, vítimas do novo coronavírus. Além disso, a confiança do consumidor caiu de 100,1 para 94,3, no período de março a maio, o nível mais baixo desde o final de 2013. Embora o Estado tenha apoiado o desemprego temporário e aprovado uma remuneração para os funcionários que perderam o emprego, um bom número de pessoas foi esquecido. É o caso de Eleonora Fogliacco, de 35 anos, professora de natação e fitness na Lombardia, uma região particularmente afetada, que ordenou o fechamento de piscinas e centros esportivos no final de fevereiro. "Não consegui ter acesso à ajuda de 600 euros (670 dólares) por mês fornecida pelo governo, porque ganhei mais de 10.000 euros (US$ 11.100) no ano passado", lamentou a jovem, que de repente se viu sem emprego. "Durante o fechamento, alternei dias muito calmos e dias em que me senti completamente perdida, sem nenhuma ajuda do Estado, não via futuro algum e não sabia em que me segurar", confessou. "Não compro nada. Dependo do meu companheiro para fazer o mercado", reconhece. Para Eleonora, a pandemia "mudou a vida de todos". Ela acredita que "o futuro próximo" será muito complicado. Segundo uma pesquisa da Confcommercio-Censis publicada na terça-feira, 52,8% das famílias italianas veem o futuro como sombrio para si mesmas, e 67,5%, para todo país. Devido ao confinamento, 42,3% registraram redução de renda, 25,8% deixaram de trabalhar, e 23,4% ficaram desempregados. Além disso, seis em cada dez famílias temem perder o emprego.

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