quinta-feira, 8 de setembro de 2011

BC justifica corte do juro, sugere repetição, mas volta a temer salário

O Banco Central (BC) traçou nesta quinta-feira (08/09) um cenário favorável para o controle dos preços, graças à debilidade da economia mundial, o que permitiria continuar cortando a taxa de juros. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), porém, traz a reafirmação do BC de que aumento de salário ainda é “um risco muito importante” para a inflação. No documento, o banco mantém a avaliação de que o mercado de trabalho permanece aquecido, com desemprego em nível historicamente baixo (6%) e salário médio elevado (R$ 1,6 mil), e que isso causa alguma preocupação. Para o BC, como há “estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho”, num momento de “descompasso” entre crescimento da oferta e da demanda, “um risco muito importante reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade e suas repercussões negativas sobre a dinâmica da inflação”. Mas o próprio BC diz, na ata, que está aumentando a ociosidade nas empresas, e isso contribui para diminuir o “descompasso” entre oferta e demanda. Ou seja, alivia pressões inflacionárias. Esta ata do Copom, referente à reunião de 31 de agosto que reduziu a maior taxa de juros do planeta em meio ponto percentual, é o terceiro documento seguido em que o BC diz ver salário como “risco muito importante” para a inflação. Tinha sido assim no fim de junho, no relatório trimestral de inflação, o documento mais extenso contendo análises do BC. E um mês depois, na ata do penúltimo encontro do Copom. A visão do BC tem incomodado aliados sindicais do governo. Para eles, o banco ajuda a dar munição a empresários que sentam à mesa para negociar reajustes salariais. Há duas semanas, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, contestara a tese de que “aumentar salário é inflacionário”. “Esta é uma velha ideia dos economistas conservadores do passado, entre os quais eu certamente não me incluo”, afirmara Guido. “Nós já ultrapassamos isso, acho que já há um consenso.” Na ata, o BC apresenta um cenário que o governo, pelas vozes de Mantega e da própria presidenta Dilma Rousseff, vem ecoando. A situação da economia internacional piorou nos últimos tempos, as previsões de crescimento pelo mundo caíram, o pessimismo aumentou e ninguém sabe ao certo quando isso tudo vai mudar. Como a economia lá fora esfria, a brasileira tende a desacelerar um pouco, porque, apesar de estar crescendo à base do mercado interno, exporta o equivalente a 15% do produto interno bruto (PIB) e tem de enfrentar a concorrência de importados vindos de países que fazem de tudo para encontrar mercados em meio à crise. Em pronunciamento em cadeia de radio e TV na noite de terça-feira (06/09), alusivo ao Dia da Independência que seria comemorado no seguinte, Dilma havia dito que “o mundo enfrenta os desafios de uma grave crise econômica” e que “os países ricos se preparam para um longo período de estagnação ou até de recessão”. De acordo com o BC, a combinação de um cenário externo fraco com o esfriamento da economia brasileira, induzido pelo próprio governo com aumento de juros para conter a inflação, oferece perspectivas animadoras para o futuro da inflação no país. O BC também aponta a decisão recente do governo de usar o aumento da arrecadação tributária para pagar mais juros da dívida, em vez de injetar o dinheiro na economia por meio de políticas públicas, como um elemento que tira impulso do PIB. Por tudo isso, o BC estaria em condições de cortar a taxa de juros, que foi o que fez na semana passada e a ata explica nesta quinta-feira (08/09).

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