segunda-feira, 4 de março de 2019

Arcebispo do Rio rebate Cabral e nega participação em fraudes

O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, negou na sexta-feira (01/03) envolvimento nas fraudes envolvendo a organização social Pró-Saúde, cujo conselho diretor é formado por membros da Igreja Católica fluminense. A conhecimento sobre as fraudes da entidade foi mencionada pelo ex-governador Sérgio Cabral (MDB) em depoimento ao juiz Marcelo Bretas."Não tenho dúvida que deve ter havido esquema de propina com a OS da Igreja Católica, da Pró-Saúde. O dom Orani devia ter interesse nisso, com todo respeito ao dom Orani, mas ele tinha interesse nisso [...] Essa Pró-Saúde com certeza tinha esquema de recursos que envolvia, inclusive, religiosos", afirmou o emedebista na terça-feira (26/02). "Ao contrário do que insinuou o ex-governador em audiência à Justiça, não houve nenhum tipo de conduta ilícita de minha parte. Jamais utilizei minha posição de cardeal e arcebispo para solicitar benefícios em favor de quaisquer instituições", escreveu dom Orani em carta aos sacerdotes do Rio de Janeiro. Os executivos da Pró-Saúde firmaram acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal em 2017 e relataram que pagavam propina ao ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes por meio do empresário Miguel Iskin. A OS Pró-Saúde administrou vários hospitais do estado a partir de 2013, como os Getúlio Vargas, Albert Schuartz, Adão Pereira Nunes e Alberto Torres. Chamou atenção da Procuradoria o orçamento alcançado pela organização após o seu ingresso no Rio de Janeiro. Os contratos no estado correspondiam a 50% do faturamento nacional da entidade e tiveram crescimento vertiginoso em curso espaço de tempo, saltando de aproximadamente R$ 750 milhões em 2013 para R$ 1,5 bilhão em 2015. As delações dos executivos, que não fazem parte dos quadros da igreja, motivaram a Operação SOS, que prendeu pela segunda vez Côrtes e Iskin. Um dos delatores é Wagner Portugal, um ex-padre que passou a integrar a OS em 2012. Reportagem da revista Época publicada na quinta-feira (28) afirma que Portugal era uma espécie de braço direito de dom Orani. De acordo com a publicação, o Ministério Público Federal investiga se gastos pessoas de sacerdotes, incluindo dom Orani, foram custeados com dinheiro público repassado por meio dos contratos da OS com a Secretaria de Saúde. Há ainda a suspeita, segundo a revista, de que dom Orani tenha pressionado Côrtes a liberar recursos para a Pró-Saúde. Dom Orani negou na carta aos sacerdotes a prática, bem como a proximidade com Portugal. "A alegação de que uma pessoa seria meu suposto braço direito é falsa. A pessoa mencionada na reportagem [Wagner Portugal] jamais exerceu cargo algum na Arquidiocese do Rio de Janeiro e não pertence ao clero desta Arquidiocese", escreveu dom Orani. A Pró-Saúde afirmou, em nota, que tomou espontaneamente a iniciativa de colaborar com a apuração do Ministério Público Federal. "A ação está em segredo de Justiça e tem resultado em importantes desdobramentos na investigação de práticas irregulares na gestão da saúde pública no Brasil", diz a nota. Em relação aos gastos em favor de religiosos, a Pró-Saúde disse apenas que "as despesas dos colaboradores da instituição observam atualmente a legislação, bem como as diretrizes e normas internas, que alcançam, inclusive, o reembolso das despesas relacionadas ao exercício de atividades institucionais pela sua diretoria estatutária" -que é composta por religiosos. A citação a dom Orani faz parte da nova estratégia de defesa de Cabral, que antes negava qualquer esquema de propina durante seu governo. Com a entrada do advogado Márcio Delambert no caso, o quinto defensor desde novembro de 2016, a intenção é que o ex-governador assuma crimes, detalhe seus participantes e contribua com novas informações a fim de reduzir futuras penas. A possibilidade de se fechar um acordo de delação no curto prazo, porém, é vista como remota.

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